Artes e Linguagem
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Fenícios
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No final da Idade do Bronze havia um grande amálgama de correntes artísticas na costa do Levante e suas proximidades. Daí a afirmação do historiador Donald Harden ao classificar a arte fenícia como uma arte de difícil compreensão. Em meio a influências egípcias, egéias e hititas, cabe-nos a pergunta do que pode ser denominado de fato fenício nessa mistura de estilos.
Muitas de suas obras desapareceram e as peças que sobreviveram nos dão apenas uma visão parcial da tradição artística fenícia, composta também por tecidos decorados e madeira talhada, que não resistiram à ação do tempo. Alguns achados na antiga cidade de Ugarit, são de particular relevância nesse caso. Peças em metal e marfim encontrados nesse sítio são absolutamente preciosos em qualquer estudo sobre a arte fenícia. Especificamente sobre o trabalho em marfim empreendido pelos fenícios, Donald Harden afirma:
“Do que foi encontrado, pode-se concluir claramente que o artista fenício dominava o material que trabalhava e tinha sentido de composição, de modo que era capaz de meter uma cena complicada dentro de um pequeno espaço, sem dar a sensação de a ter forçado. Também o modo como modelava as figuras é excelente dada a dureza do marfim. Se os desenhos aparentemente religiosos tinham finalidade meramente decorativa e sem objetivo religioso é uma questão a que é muito difícil responder. Isso aplica-se não somente aos marfins mas também a outra arte fenícia, incluindo tigelas de metal gravado ou repuxado.” (HARDEN, 1971, pp 190)
Quanto à linguagem e à escrita, é notória a contribuição fenícia na difusão do alfabeto. Eles foram os primeiros a compreender sua utilidade, já que se tratava de um processo de escrita cômodo e simples, que facilitava tanto as suas operações comerciais quanto a propagação do pensamento.
Sabe-se que o alfabeto fenício foi baseado no alfabeto semita, e a partir dele originou-se o alfabeto grego, bem como os alfabetos aramaico, hebraico e arábico. O alfabeto fenício não tem símbolos para representar sons de vogais; cada símbolo representa uma consoante. As vogais precisavam ser deduzidas no contexto da palavra.
O momento e o lugar da aparição do alfabeto tal como o conhecemos, ou seja, sob a forma de um sistema que permitia a transcrição mais rápida e mais fácil da linguagem oral, é ainda uma questão não resolvida. As teorias mais prováveis de sua criação datam da primeira metade do segundo milênio a.C. nas cidades de Ugarit, Tiro e Biblos.
Com suas 21 consoantes, o alfabeto fenício está bem documentado nos monumentos de Byblos, como o sarcófago de Ahiram. Já nessa época, a forma das letras estava fixa, assim como a posição horizontal da escrita. De acordo com evidências arqueológicas o alfabeto fenício se espalhou rapidamente além de suas fronteiras. Por volta do século IX a.C. ele havia sido adotado por uma variedade de linguas vizinhas, incluindo o Aramaico, Hebreu, Amonita, entre outras.
A expansão fenícia no Mediterrâneo levou à exportação do alfabeto, primeiramente para Ciprus e Creta em 900 a.C. e um século depois para o Mediterraneo Ocidental, na Sardenha e no sul da Espanha. Contudo, seu impacto foi mais proeminente na cultura egéia, na medida em que os fenícios foram os responsáveis pela introdução e a adoção do alfabeto grego, um fato confirmado pelo tamanho, forma e ordem das letras os primeiros escritos gregos.
Em posessão de um alfabeto, os fenícios escreveram numerosas obras que, infelizmente, não chegaram até nós. Devemos, no entanto, mencionar aqui um dos poucos autores fenícios conhecidos hoje: Sakkunyaton, cuja obra, que trata de uma história fenícia, e foi traduzida para o grego por Filón de Biblos, no século I d.C.
Quadro comparativo demonstrando a evolução do alfabeto fenício