Os Melquitas

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História do Líbano
Os Melquitas

Introdução

Veja abaixo um panorama histórico da igreja greco-melquita desde a sua formação, e de seu crescimento, e expansão pelo Oriente. A segunda parte descreve a instalação da igreja melquita no Brasil em fins do século XlX e primeira metade do século XX.

No início do cristianismo, quando os apóstolos se reuniram em Jerusalém, não havia rito específico. Então, transformaram as cerimônias das sinagogas em liturgia cristã. Com o crescimento das comunidades cristãs nos grandes centros, teve início uma certa uniformidade nas celebrações litúrgicas.

No século lV observa-se, através de documentos, a existência de ritos já constituídos em famílias litúrgicas. No Oriente surgiram quatro ritos:

1 – O rito asiático, na região da Ásia Menor.
2 – O Rito do Ponto, na região da Anatólia, (atual Turquia) próximo do Mar Negro; na região da Néo-Cesaréia, (atual norte da Turquia) Nazienze, Cesaréia da Capadócia, (atual norte da Turquia) mais tarde englobado pelo rito de Constantinopla ou Bizantino.
3 – O rito siríaco na região do “Oriente”, Antioquia e Jerusalém o qual mais tarde dominou os outros ritos.
4 – O rito egípcio ou copta, na região do Egito.

A partir do século V houve a formação dos quatro grandes Patriarcados do Oriente: Constantinopla; Alexandria, Antioquia e Jerusalém. Com a formação dos Patriarcados, vários ritos particulares menores desapareceram.

Assim, o rito de Constantinopla ou bizantino dominou a região da Ásia Menor e do Ponto. Dentro deste rito nasceu o rito melquita. Do antigo rito de Antioquia nasceu o rito maronita.

No final do século VII, no Oriente, haviam três ritos cristãos principais: o bizantino, o egípcio e o siríaco, e três ritos derivados: o armênio, o caldeu e o maronita.

Assim, temos o seguinte quadro:

Rito bizantino: gregos, melquitas, eslavos, ucrânianos e fiéis da Europa Oriental.
Rito antioquino: siríaco antioquino, siríaco maronita e siríaco malankar (Índia).

Com a importância política e eclesiástica de Bizâncio-Constantinopla, a Igreja Bizantina desenvolveu seu próprio patriarcado independente e sua própria liturgia.

Devido à importância de Bizâncio, os Concílios lhe outorgaram a proeminência no Oriente e o rito da capital espalhou-se por todas as províncias do Oriente Cristão, Europa e Ásia.

Nos séculos Xll e Xlll, os patriarcados melquitas de Antioquia, Alexandria e Jerusalém abandonaram progressivamente seu antigo rito para adotar o rito bizantino que se tornou o rito da ortodoxia face ao ocidente e face às minorias orientais.

O rito utiliza cinco idiomas diferentes, segundo a região, entre eles o árabe (os melquitas, às vezes também usam o grego). Não se pode esquecer que o rito bizantino usa sempre o idioma da região onde é celebrada a liturgia (no Brasil se celebra em português, árabe e grego, dependendo dos participantes).

A Origem da Igreja Melquita

A igreja católica tem em alta estima as instituições, os ritos litúrgicos, as tradições eclesiásticas e a disciplina da vida cristã das Igrejas Orientais.

A igreja melquita parece ser a mais antiga do mundo, sucessora direta dos apóstolos. O Patriarca tem o título de “Patriarca de Antioquia e todo o Oriente, de Alexandria e Jerusalém”.

Jerusalém é a Cidade Santa, onde Pedro fez seus primeiros discursos e presidiu o primeiro Concílio da Igreja.

Antioquia é a “Cidade de Deus”. Onde os melquitas foram pela primeira vez chamados “cristãos”. Foi aí que Pedro estabeleceu sua primeira sede, antes de se fixar em Roma.

Os melquitas de hoje são os descendentes destes primeiros centros de cristandade. Durante 20 séculos os melquitas foram os testemunhos da fé de Pedro e dos apóstolos.

O nome melquita apareceu relativamente tarde, depois do 4º Concílio Ecumênico, o da Calcedônia, no ano de 451. As definições cristológicas e dogmáticas do Concílio foram aprovadas pelos delegados do Papa Leão I.

Mais por motivos políticos que por razões teológicas, as nações que já não suportavam a colonização bizantina (siríacos, coptas, armênios), e que procuravam se separar do Império Bizantino, recusaram as definições do Concílio. Aos que aceitaram as definições do Concílio do Papa Leão l, foi dado o nome de “melquitas” (da raiz semítica “melek” que significa rei, imperador). O papa foi chamado “Chefe dos Melquitas”.

Quando a capital do Império Romano transferiu-se de Roma para Bizâncio (atual Istambul), a língua oficial da capital do Império gradualmente passou a ser o grego. Por esse motivo, cristãos romanos orientais falavam o grego. Os muçulmanos, ao invadirem o Império, passaram a chamá-los tanto de romanos quanto de gregos.

No Oriente, para indicar outras Igrejas Orientais Católicas seu nome sempre vem acompanhado da denominação étnica: Armênia, Siríaca, Copta… Católica. Quando o têrmo “ Katulik” aparece sozinho, significa a Igreja Greco-Melquita.

Atualmente a palavra “católica” significa “em comunhão com o Papa ou com a Igreja de Roma”.

Apesar das dificuldades criadas pelos Patriarcas de Constantinopla que eram apoiados pelos sultões otomanos, no século XVIII os cristãos, apoiados pelos missionários europeus (jesuítas, franciscanos, capuchinos e carmelitas), conseguiram reavivar a fé em sua igreja. Nasceu então um movimento “de despertar” cristão que lhes permitiu se orientarem em direção a Roma e ao catolicismo, retomando a confiança otomana na Igreja Católica. Concedia aos Patriarcas de Constantinopla um domínio sobre todos os cristãos do Império que eles governavam.

Foi este mesmo apoio que incentivou um grande número de melquitas a se libertarem da autoridade de Constantinopla e declararem oficialmente sua união com Roma.

Essa união foi legalizada com a eleição do Patriarca melquita Cirilo Tanás, pró-romano, que substituiu Atanásio lll Dabbas, falecido em 1724. É a partir de 1724 que a Igreja Greco Melquita Católica retoma seu impulso e entra numa nova etapa de crescimento, depois de um longo período de sonolência forçada pelas pressões de Constantinopla.

Nesta segunda etapa de crescimento fundam-se algumas ordens religiosas e seminários, dentre os quais se destaca: Seminário de Aintraz-Líbano (1811), Seminário de Santa Ana de Jerusalém (1882) mais conhecido como “Salahich”, como também vários colégios em Damasco e Alepo, na Síria e em Beirute, no Líbano.

Melquitas no Brasil

Os fiéis greco-melquitas são, em sua maioria, habitantes do Oriente Médio que devido às constantes crises provocadas pelas guerras imigraram para o Brasil por volta de1869 a 1890.
Com o crescimento da diáspora, a Igreja Greco-Melquita passou a se preocupar com seus fiéis fora do Líbano e, a pedido do Patriarca, a Santa Sé procurou enviar sacerdotes orientais para os países de imigração. Foi assim que em 1939 chegou ao Brasil o primeiro pároco melquita, o Arquimandrita Elias Couéter, substituindo o sacerdote Arquimandrita Georges Haddad que estava voltando para o Líbano.

O Arquimandrita também Couéter recebeu da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro autorização para celebrar a Santa Liturgia nas Igrejas da Arquidiocese do Rio de Janeiro, enquanto se construía uma igreja para os fiéis do rito melquita, em terreno adquirido pelo Arquimandrita Georges Haddad. Em 1940, foi concluído o templo melquita que tomou o nome de São Basílio.

A vida pastoral na diáspora era muito difícil por causa da grande quantidade de fiéis espalhados por todas as regiões, bem como pela falta de sacerdotes e de uma sólida organização da Igreja Melquita.

Foi somente em 1945, com a nomeação de Dom Maximos Sayegh como Delegado Patriarcal para os Melquitas Católicos imigrados, que se conseguiu organizar a Igreja Melquita. Mais tarde, Dom Maximos Sayegh se tornaria o Patriarca Maximos IV Sayegh (1947-1967) no Líbano.

Em 1946, Dom Jaime de Barros Câmara, Arcebispo do Rio de Janeiro, declarava paróquia a Igreja de São Basílio e nomeava o Arquimandrita Elias Couéter seu primeiro pároco. A Igreja de São Basílio foi a primeira Igreja Greco-Melquita do Brasil.

Em sua primeira visita a São Paulo, o Arquimandrita Couéter encontrou-se com o Arquimandrita Dimitri Alouche que auxiliado pelo Conselho melquita de São Paulo, que na época era presidido por Jorge Bey Maluf, estava erguendo a Igreja Nossa Senhora do Paraíso que mais tarde viria a ser a Catedral Greco-Melquita Católica do Brasil. A pedra fundamental da Igreja foi lançada no dia 23 de agosto de 1951. O projeto é do arquiteto Benedito Calixto de Jesus Neto.

Em 17 de dezembro de 1960 o Arquimandrita Couéter era nomeado Bispo Auxiliar de Dom Jaime de Barros Câmara para a Comunidade Greco-Melquita Católica do Brasil. Depois disso, fixou residência em São Paulo, na Paróquia de Nossa Senhora do Paraíso.

A 2 de janeiro de 1972 o papa Paulo VI nomeou Dom Couéter o primeiro Eparca da Nova Eparquia Melquita. O documento dava-lhe o título de “Primeiro Eparca de Nossa Senhora do Paraíso, para todos os fiéis melquitas de Rito Bizantino no Brasil”.

Os melquitas tornaram-se independentes das autoridades religiosas do país, permanecendo, porém, membros da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (C.N.B.B.).

Em 1993, a Igreja Melquita, sob a dire ção do Patriarca Maximos V Hakim, tinha aproximadamente o seguinte quadro:
34 metropolitas, arcebispos e bispos.
450 padres (metade religiosos e metade seculares)
125 seminaristas
1.755.000 fiéis, assim distribuídos:

No Oriente Na diáspora
Síria 350.000   Brasil 630.000
Líbano 315.000   outros países da América Latina 155.000
outros países 92.000   outros países 213.000
TOTAL 757.000   TOTAL 998.000

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